Resposta:
A primeira parte da letra diz o seguinte: “Aqui não falta sol, aqui não falta chuva. A terra faz brotar qualquer semente. Se a mão de Deus protege e molha nosso chão, porque será que tá faltando pão.”
A reflexão era extremamente oportuna naquela época, onde não fazia sentido em um país rico de recursos e de capital humano como o nosso, mais de um terço da população estar situada economicamente abaixo da linha de pobreza. É bem verdade que tivemos uma grande diminuição no número de miseráveis durante os 8 anos do governo Lula e esse será, sem dúvida, basicamente o único grande legado daquele período. Mas mesmo assim, se trouxermos esse pensamento para os dias de hoje.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
A segunda estrofe mantém o tom de questionamento da primeira, já agora um pouco em tom de súplica: “Se a natureza nunca reclamou da gente, do corte do machado, a foice, o fogo ardente. Se nessa terra tudo o que se planta dá, que é que há, meu país? O que é que há?”
Essa foi outra frase muito bem adaptada àqueles dias, onde se intensificou os questionamentos e o debate sobre o uso extensivo da terra. Reflexão essa que culminou com a aprovação do mais completo e avançado código florestal do planeta. Embora ainda tenhamos excessos e desvios, nesse aspecto o país, e em particular o agronegócio brasileiro passou a ser exemplo e modelo para todo o mundo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Na terceira parte a letra tenta encontrar alguma explicação para os questionamentos das duas primeiras partes: “Tem alguém levando lucro, tem alguém colhendo o fruto, sem saber o que é plantar. Tá faltando consciência, tá sobrando paciência, tá faltando alguém gritar.”
Sem nominar setores específicos da sociedade ou da economia, o autor, transbordando sua alma sertaneja, não conseguia disfarçar a sua indignação de fazer parte de um setor tão dinâmico e pujante como o nosso agronegócio, e ainda ter que viver de esmolas do governo federal e conviver com a crônica falta de apoio, com a crônica falta de infraestrutura, e de condições mínimas para exercer a sua atividade profissional. O setor avançou, se profissionalizou, se modernizou. Embora seja a grande âncora de nossa economia, segue brigando para trabalhar. Segue lutando contra tudo e contra todos.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Na quarta estrofe que a música se tornou genérica para toda a sociedade produtiva deste país, além de absoluta e ironicamente atual: “Feito um trem desgovernado, quem trabalha tá ferrado, nas mãos de quem só engana. Feito mal que não tem cura, estão levando à loucura, o país que a gente ama.”
E arremata: “Feito mal que não tem cura, estão levando à loucura, o Brasil que a gente ama!” Como disse no início, essas frases faziam coro a um sentimento de indignação dominante na população, e que acabaram levando Lula à presidência do país por dois mandatos. E aqui é que está a grande ironia do processo. Se essa música fosse lançada em 2014 e fosse adotada pela candidatura de oposição, a mesma que em 2002 era governo e o alvo central dessa bela poesia de protesto, certamente também se tornaria “hino” de campanha.
Explicação: