Resposta:
REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA
Autores/as:
LÚCIA BRUNO
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Processo de reorganização geral do modo de produção capitalista em âmbito global, que teve início nos anos setenta e prosseguiu nas décadas seguintes. Apresenta diversas dimensões: econômica, política, social e cultural.
No que se refere à esfera econômica, ocorreram mudanças nas formas de organização do trabalho, na sua base técnica, na forma como as empresas se organizam para a produção e comercialização de bens e serviços, nas formas de contratação de trabalhadores e no desenvolvimento do setor de serviços. Esse processo inaugurou um novo ciclo no processo de acumulação de capital. A organização tradicional com base no modelo taylorista-fordista de organização do trabalho, em que predominavam a fragmentação das tarefas, a especialização de funções e a divisão rígida entre planejamento e execução das tarefas, foi substituída por formas sistêmicas e mais flexíveis de organização das atividades produtivas. Essa nova forma de organização do trabalho, que pode ser realizada de forma dispersa em termos geográficos, mas que é altamente integrada do ponto de vista tecnológico e da gestão, foi possível devido à introdução de uma nova base técnica fundada na microeletrônica e na informática.
Isso produziu alterações no conteúdo das atividades a serem realizadas e exigiu novos conhecimentos técnicos e novas atitudes no ambiente de trabalho em que responsabilidades técnicas foram delegadas aos próprios trabalhadores. Nos setores mais dinâmicos de acumulação de capital e nas empresas que recorrem fundamentalmente aos mecanismos da mais-valia relativa, o foco da exploração deslocou-se do componente físico da qualificação para o seu componente intelectual. Novas formas de controle do trabalho surgiram com base na informática, operando em tempo real, e as formas disciplinares do capital sobre o trabalho que incidiam primordialmente sobre o corpo do trabalhador passaram a incidir, prioritariamente, sobre a sua estrutura psíquica.
Do ponto de vista da organização da cadeia produtiva, seus diversos elos constitutivos foram desmembrados não só geograficamente, espalhando-se por diversas regiões do mundo, tendo em vista aproveitar as vantagens comparativas entre elas, mas do ponto de vista da propriedade jurídica dos meios de produção, esses elos foram distribuídos por empresas diversas e até mesmo para trabalhadores autônomos, uma vez que as empresas optaram por manter apenas o que consideram sua função nuclear. Isso produziu o que ficou conhecido como terceirização da produção.
Este desmembramento dos elos da cadeia produtiva acelerou a internacionalização da produção que se tornou globalizada, integrando as economias nacionais numa ampla teia de relações, em que a hierarquia existente entre países e regiões do mundo passou a se estruturar a partir de diferenças relativas à complexidade tecnológica dos elos da cadeia produtiva que abrigam. Essa nova modalidade de acumulação trouxe em seu bojo a transformação do sistema financeiro que passou a ocupar um lugar fundamental no processo de acumulação. Ao mesmo tempo, conferiu-lhe grande autonomia frente aos mecanismos tradicionais de regulação e coordenação financeira convencionais.
Essa nova forma de organizar a cadeia produtiva implicou em alterações importantes no urbanismo, alterando o traçado do espaço urbano e não urbano, pois exigiu novas rotas para a circulação de produtos, em razão de as empresas trabalharem com estoques reduzidos tendendo a zero, tal como propõe o modelo japonês da Toytota.
A introdução de uma nova base técnica e de uma nova racionalidade organizacional de caráter sistêmico produziu altas taxas de desemprego e desqualificou vastos segmentos da classe trabalhadora