Resposta:
Fala-se da importância do esporte como ressocializador e meio de inclusão social de jovens sob condições de risco numa comunidade, cada vez mais influenciada por estereótipos. Há quem prefira construir presídios a quadras poliesportivas.
A mercantilização do esporte, especialmente o futebol, e a competição desenfreada na própria sociedade mostram seus reflexos e estilhaços: violência e intolerância de torcidas organizadas, não admitindo ao time do coração derrota. E sem perda não há ganho! Darwin dizia, muito tempo atrás: a evolução é eterna luta de classes em que só os mais fortes sobreviverão. Refrão do hino do C.R. Flamengo é pequena mostra da atualidade: Vencer, vencer, vencer! Empatar ou perder nem pensar, senão há xingamentos, arremesso de objetos em campo, tentativa de linchamento do time à saída do estádio, briga campal entre torcidas adversárias e do mesmo time...
Hoje se o futebol é um dos esportes mais lucrativos do mundo, movimentando (legalmente ou não) trilhões de dólares, e tendo como sede entidade (FIFA) que congrega mais países do que a própria ONU, deve-se tal sucesso a um brasileiro. Não Charles Miller, que trouxe a primeira bola pro país, mas João Havelange, que deu ao futebol o espírito empreendedor, tornando-o rentável ainda que cada vez mais feio (de dar dó!) de se ver jogado. No Brasil, seu herdeiro é o exagero Ricardo Teixeira, presidente da multimilionária CBF, com patrocinador (multinacional de material esportivo) que dispensa apresentações, mas que segundo denúncias e suspeitas, já esteve supostamente envolvida na utilização de mão-de-obra infantil em países orientais. O "American way of life" venceu por W x 0. O lucro é mais importante que a competição. O espírito olímpico do Barão de Cobertinha - quando restaurou os Jogos Olímpicos modernos, espelhado nos jogos da Antiguidade, de que "o importante é competir" -, já não vigora mais. O importante é vencer (mesmo sem convencer), para usufruir maior cota de patrocínio nas TVs, na venda de camisetas, jogadores e materiais esportivos, na receita de jogos amistosos a peso de ouro...
O futebol globalizou-se antes mesmo da Globalização. Hoje, meninos no Vietnam, Sudão, México, Paquistão ou Camboja usam a camiseta de Ronaldo ou Zidane, imitam os gestos do ídolo, seu penteado, sua forma de ser, afinal a televisão é o espelho instantâneo do que acontece mundo afora. E cada vez mais os jovens nas escolinhas de futebol sonham em jogar na Europa, antes mesmo de iniciar carreira profissional no clube que investiu em seu talento. Como culpá-los de falta de identidade e de amor à pátria, de mercenários, se o El Dourado, que já foi na América, agora se encontra deslocado pras bandas de Greenwich e seus arredores? E se aqui impera a politicagem em clubes e federações esportivas, gerando crises e brigas generalizadas, nada indicando melhoria a curto ou médio prazo?
Depois da Copa do Mundo, na Alemanha, enfim, torneio mundial na África. Não a mãe África subdesenvolvida, expropriada e escravizada por séculos a fio pelo colonialismo, mercantilismo, liberalismo e agora o neoliberalismo. O mundo verá a África do Sul - rica em minérios -, querendo mudar a imagem, após o fim do famigerado segregacionismo (apartheid).
Futebol: esporte popular cada vez mais com o espírito empresarial. E o Fair Play (jogo limpo) coisa para inglês ver, pois nos bastidores esportivos (e futebolístico) a competição normalmente está vinculada à política ou a interesses econômicos. Todavia, essa Copa serviu para desmistificar crendices, mitos e superstições: que tradição e camiseta vencem jogo; que jogador diferenciado pode em lance de genialidade decidir a partida; que o Brasil não tem adversário, não precisa treino nem organização dentro e fora de campo. Tem sim: seu maior adversário são seus próprios gestores: públicos e privados! E a competição desenfreada na sociedade, prova isso: só o melhor curriculum vitae sobrevive; salvo raras exceções.
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